Semana de 4 dias de trabalho nos objetivos da IGMetal.
A IG Metall, provavelmente o maior sindicato industrial europeu, assumiu agora publicamente a defesa da causa da semana de 4 dias, depois de um seminário recente com quadros do sindicato em que participou também o economista Pedro Gomes, que tem colaborado com a Práxis neste debate e que coordena em Portugal o projecto-piloto oficial de experimentação da semana de 4 dias no sector privado.
É uma boa notícia, pelo impulso que esta posição da IG Metal pode dar ao maior envolvimento do movimento sindical europeu no combate na associação entre a semana de quatro dias e o combate pela redução do tempo de trabalho. Partilho em anexo uma versão de tradução automática em português e a versão publicada online em inglês – https://www.dw.com/en/german-metalworkers-union-igm-pushes-4-day-work-week/a-65235063
Sabemos que o movimento sindical está ainda muito recuado em Portugal neste domínio e revela dificuldade em compreender o potencial mobilizador para os trabalhadores e as novas gerações de associar a clássica exigência da redução do tempo de trabalho semanal com o novo fôlego que a semana de 4 dias pode introduzir nesta causa. Como se tem verificado também em vários estudos, os trabalhadores, e sobretudo as novas gerações, cada vez mais valorizam não apenas a questão salarial, mas a qualidade do trabalho e o equilíbrio entre tempo de trabalho e vida pessoal. E é aqui que a semana de quatro dias vem introduzir um novo elemento positivo nesta equação da redução do tempo de trabalho, que nas últimas décadas não teve progressos, apesar das possibilidades e mudanças tecnológicas, presente nos cadernos reivindicativos, mas em evidente perda de fôlego social.
É hora de o combate secular e fundador do movimento operário pela redução da jornada de trabalho se reinventar e conquistar novo fôlego. A semana de 4 dias, com redução de tempo de trabalho e sem perda salarial, pode ajudar nessa direção.
COMENTÁRIO DE UM MEMBRO DA PRAXIS
Qual o impacto da estagnação do tempo de trabalho no processo de acumulação de capital e no avolumar das desigualdades?
Sem dúvida uma questão vital com impacto direto nas emissões do setor dos transportes que respondem por 28% do total.
Reduzir o número de dias de trabalho e não apenas o número de horas é um enorme ganho para o bem estar dos trabalhadores, aumentando sua disponibilidade para participar noutras dimensões sociais, políticas e lúdicas das suas vidas, mas pode ter também um enorme impacto ambiental positivo razão pela qual propusemos esta medida no âmbito da campanha ‘empregos para o clima’ em 2019.
Estamos muito atrasados em relação às 15 horas de trabalho semanal que um certo autor da primeira metade do século XX previu para a duração da jornada laboral no final do século passado.
Seria interessante refletir sobre o impacto que a estagnação da redução do tempo de trabalho, sem perda de direitos nem de rendimentos, tem tido, desde os anos 70, no processo de acumulação de capital e no avolumar das desigualdades e como o retomar do caminho de redução do tempo de trabalho pode contribuir para as mudanças essenciais no modo como nos organizamos para produzir, consumir e viver em sociedade.
A redução da semana de trabalho para 4 dias até 2030 tal como proposta à 4anos atrás, não precisa de ser realizada de um momento para o outro, carece de um acordo global que equacionar a possibilidade de reduções anuais, que dêem margem às organizações para se adaptarem à redução gradual do tempo de trabalho, na altura a proposta era a de redução de uma hora por ano a partir de 2022.
A instituição de mecanismos permanentes que conduzam à redução estruturada e constante da jornada de trabalho pode ser uma via a considerar depois de vencida a batalha da semana dos 4 dias para fazer face aos desafios impostos pela necessidade de redução da produção e do consumo (dadas as restrições sociais e ambientais) bem como à revolução na produção a que o advento da IA certamente conduzirá.