representantes dos trabalhadores: DO QUE FAZEM AO QUE INFORMAM
COMUNICAR É PRECISO
representantes dos trabalhadores:
DO QUE FAZEM AO QUE INFORMAM
Há pouco mais de uma semana me deparei com uma amiga de longa data, Luísa Santos (nome fictício) que trabalha na província, fora de Lisboa, que me dizia com veemência que havia desistido de ser sócia de seu sindicato.
Algo difícil de aceitar para mim; mas fácil de debater, exigir os porquês. Exceto que, de fato, eles eram fáceis de dar. E. não concordando com a desistência, tenho que concordar com a altíssima indignação.
Conto-vos o que esteve na origem. No serviço da Luísa, 2 delegados sindicais candidataram-se e foram eleitos para membros da Comissão Sindical para poderem usar dos dias de ausência justificada. Até aí tudo bem.
Assim, em cada semana, em certos meses, lá “tinham reuniões em Lisboa”, “grande sacrifício” esse de ir e vir… até que se desconfiou, percebeu e confirmou que iam era caçar!
A Luísa confrontou-os, escreveu a pedir ação corretora à direção do sindicato, que protegeu os prevaricadores (talvez pensando assim proteger o sindicato instituição).
Foi diante dessa conduta e desses fatos que minha amiga não quis mais ser sindicalizada. Compreensível? Reconheço que sim.
As lamúrias e os comentários de muitos trabalhadores, a voz popular (sem)senso comum, os populistas e saudosistas do passado, regularmente comentam e disseminam as ideias de que “os gajos do sindicato não querem é trabalhar”, “os do sindicato andam é a papar Km bem pagos”, “eles querem é papar almoços e andam em jantaradas”, ou mesmo que “são muito bem pagos pelo sindicato”. Também se dizem outras alarvidades, mas fico-me por aqui.
O caso que vos relatei antes parece, no entanto, dar razão às lamúrias. Mas nada é mais injusto que esses pretensos donos da verdade propalarem essas sentenças! Claro que existem exceções, mas são bem poucas, raras. A grande maioria dos quadros sindicais, em todos os níveis, quase podemos dizer que paga para ser sindicalista, além da generosidade e dedicação imensa à causa. Você tem direito, é claro, a ser compensado de seus custos extras, mas não mais que isso. Mais, no caso dos sindicalistas da CGTP, que bem conheço, até por experiência própria, são perdedores: são em geral preteridos (se não excluídos) pelas entidades patronais, não progridem nas carreiras, só têm aumentos salariais se obrigatórios, são comparativamente com os colegas na empresa claramente discriminados.
Posto isto, vamos ao essencial. Como é que se pode promover a verdade? Como podemos impedir esses boatos? Como fazer para que seja a verdade da ação sindical que se conhece?
A solução é comunicação e transparência. O esforço das organizações sindicais deve passar por dar formação aos representantes sobre como comunicar, promover uma cultura de transparência, sobre a necessidade de ser informar a par e passo os representados do que é a agenda sindical, onde participam quando não estão nos seus locais sindicais ou de trabalho.
É uma das principais fraquezas do movimento sindical: o desfasamento entre as ações dos eleitos e a informação prestada aos trabalhadores.
É aqui, na transparência e comunicação que se pode fazer ganhar a verdade contra a mentira propalada, que se pode mostrar a utilidade de como os representantes sindicais (ou das CTs) ocupam o tempo, as reuniões onde participam, sobre o que são, quais as conclusões mesmo que não definitivas. Além do mais, em cada reunião na empresa, com a representação patronal, seja o RH (gestão de pessoal) ou diretor, diretoria ou patrão, é bom que os trabalhadores sejam informados do que aconteceu.
(se fosse assim, casos como o que fez Luísa deixar seu sindicato não teriam o mesmo espaço para acontecer!)
Aliás, não se justifica insistir nos meios tradicionais para fazê-lo, o comunicado ou uma pequena tarjeta. Hoje, uma comissão sindical é bom que tenha os números de celular dos trabalhadores que representa, podendo rápida e facilmente informar e mais, ser interativo: receber reações e comentários. Além disso, não vale mais a pena dar primazia aos placardes murais que a lei continua a prever. É bom que se negocie (por acordo de empresa ou acordo coletivo de trabalho) as condições de acesso dos delegados sindicais a meios de comunicação da empresa: uso de mail, uso da rede interna, etc.
Um dia destes veremos porque se devem usar e como se é eficaz nestas novas maneiras de comunicar.
Até breve.
Artigo escrito com coragem e visão, conheço bem o problema pois como representante ainda “sofro” por males cometidos no passado, mas com contornos de tornar a voltar a “pescar à linha” descontentes por práticas pouco dignas de alguns “representantes”, há que inverter, captar, formar e fixar. A comunicação é essencial hoje em dia num mundo digital e temos meios para o fazer.
Este texto revela que na maioria das situações, confunde-se a arvore com a floresta. A comunicação de “escarnio e maldizer” atinge proporções devastadoras fazendo o justo pagar pelo pecador. Mas revela também alguma fragilidade das organizações de trabalhadores, na correção dessas situações que na maioria das vezes são camufladas, procurando desta forma que não se tornem publicas o que muito raramente acontece. A valorização do trabalho sindical ou das Comissões de trabalhadores é uma frente de trabalho que hoje dispõe de tecnologia que nos permite chegar a todos os trabalhadores e associados repondo desta forma com justiça o trabalho árduo, digno e muito mal recompensado da maioria dos representantes dos trabalhadores.