Da comunicação de cada dia À OPORTUNIDADE DUM NOVO ANO
Da comunicação de cada dia
À OPORTUNIDADE DUM NOVO ANO
Estamos naquela época de festas e de novo ano. Claro que muitos dos representantes de trabalhadores, como o comum dos mortais, se interrogam sobre o ano que passou e sobre o que vai começar.
Quando há poucos dias encontrei a Ana e o Jorge (ele da indústria gráfica, ela da imprensa escrita), que conheci bem por muitos anos de trabalho cooperante no movimento sindical, encontrei uma certa nostalgia no que me falaram.
Talvez sem razão. Afinal a realidade evoluiu muito e aceleradamente.
Uma das referências era então a famosa Festa de Natal que o sindicato organizava e para que as comissões sindicais mobilizavam participação e ajudavam na atribuição de brinquedos. E o Jorge ainda me falou da agenda sindical, com um caderninho com os direitos. Tão importante, dizia ele.
Na altura, lembro-me bem, eu discutia era a forma como tudo isso se comunicava pobremente.
Claro que isso não é assim há muitos anos: uma boa gestão financeira dos sindicatos impôs que os gastos fossem redirecionalizados, para outras prioridades, corretamente.
Na verdade, uma análise simples do que se fazia não resiste: quantos sócios na Festa? Quantos distritos ou outras terras têm membros no sindicato e não tinham Festa onde pudessem ir? Que brinquedos? Que qualidade do que se dava? Quantas críticas e acusações de ser excluído eu cheguei a ouvir. Etc.
A pauta como guia de direitos que permanentemente poderia servir de apoio para cada sócio, bem, teria sim utilidade. Mesmo assim, pergunta-se: eram as leis gerais ou cada acordo coletivo aplicável ao sócio concreto a quem se distribuía?
E hoje em dia, justifica-se, mesmo para trabalhadores menos afetos a tecnologias, fazer agendas das tradicionais quando uma app ou um código QR pode facilmente conduzir o telefone do sócio ao exato sitio onde está a lei ou o contrato aplicável – já agora, sempre dentro do site do sindicato?
Talvez a questão esteja não onde Ana e Jorge a colocaram, mas muito mais na oferta de soluções acessíveis, na disponibilização de meios para integrar o sócio na ação coletiva sindical. E mesmo o trabalhador não sócio percebendo a utilidade de estar junto, pois assim sempre será mais esclarecido, apoiado e forte.
Na verdade, recuando, as decisões dos sindicatos – como as de encerrar aquelas práticas citadas acima – são pouco divulgadas pelos sócios, não há em geral transparência . Não há uma prática pedagógica democrática que explique, informe, dê acesso. Por exemplo, você vai me dizer: mas nós publicamos as contas dos sindicatos! Claro que sim. Sem querer admitir (mas sabendo como é fácil e possível) que as contas sejam manipuladas, as mesmas são em certos casos assumidas como o cumprimento duma obrigação burocrática, simples, mas de modelos desinteressantes, com designação do plano de contas que não se sabe bem o que integra… mas saber onde se gasta o dinheiro dos sócios é de elementar rigor democrático.
Mas não será só isso. É também o caso dos planos de atividades. Ou mesmo o número de sócios (que, à falta de transparência e regular divulgação, bem podem ser manipulados), o balanço entre quem entrou e quem saiu, a evolução, a tendência e a razão porque vai sendo assim. A representatividade é importante, reforça o poder negocial, impõe respeito. E a inexistência dum sistema de aferição de representatividade, democraticamente validado e controlado, não favorece a sindicalização.
Julgo não me enganar ao dizer-vos que a renovação e o rejuvenescimento sindical se impõem: ir ao fundo da prática democrática , procurar sempre a participação , a que dá razão à representação. E dar poder aos jovens que aceitem assumir responsabilidades sindicais ( mas atenção, é preciso rever o “status” dos dirigentes: a velha máxima de ganhar o mesmo que ganharia na empresa, está totalmente defasada e fora das realidades do mercado de trabalho de hoje) . Depois e sempre é indispensável formar os representantes ( não se nasce ensinado; ser representante é cada vez mais exigente, é preciso aprender, aprender, aprender sempre , como dizia o Vladimiro).
Nos tempos que correm, no virar de mais um ano, vale a pena pensar na comunicação sindical. Como os sindicatos precisam de ganhar contemporaneidade na comunicação, aceitar que sendo tarefa de todos , tem de receber o contributo de especialistas; adotar técnicas e ferramentas ao dispor – que podem ser mutualizadas e assim, sendo potentes, tornar-se acessíveis.
Iniciativas e uma comunicação integradora, que reforce o sentido de pertença, a identidade de classe, são necessárias como o pão para a boca.
Assim, posso desejar a todos um Bom Ano 2025!
Ulisses Garrido
17/12/24
Ainda me lembro de uma proposta de José Luis Judas, que nos primórdios do inicio do declínio do Movimento sindical unitário, projectava a necessidade de uma reestruturação sindical absolutamente necessária, onde se incluía a desconstrução da então estrutura que se duplicava, entre uniões e federações. Esta proposta foi profundamente criticada negativamente e arrasada pela maioria dos sindicalistas comunistas. Lamentei porque já nesse período também entendia, ainda que com muito menos conhecimento, que o grupo subscritor, que pelo menos algumas reformas deveriam ser feitas.
A reestruturação que tem sido feita, assenta fundamentalmente na força das circunstâncias e não num projecto ou plano pensado e antecipado aos acontecimentos. As festas de natal, os circos, os brindes que dão sustentabilidade à análise deste artigo, são o exemplo de que acabo de referir. Nunca foram totalmente abrangentes, muitas vezes ou quase sempre, discriminatórios, despesa excessiva, que em tempo oportuno poderia ter sido substituída por otras formas de ligação aos associados e trabalhadores em geral.