Ganhar uma negociação, começa antes
Ganhar uma negociação, começa antes
Ontem escrevi um texto sobre o pós negociação. Houve logo voz amiga que me chamasse a atenção que estava a começar pelo fim. Volto ao assunto. Agora a voltar para trás!
Pensas que uma negociação coletiva começa quando as partes se sentam à mesa, geralmente em cada lado da mesma? Nem pensar. A verdadeira negociação não se inicia na reunião formal — ela é construída muito antes, nos locais de trabalho e nos de convívio laboral. Se chegarmos à mesa negocial apenas com um bloco de notas e fé ou esperança, já perdemos. Ganhar, começa no trabalho invisível, de formiguinha dos delegados sindicais: escuta dos trabalhadores, que problemas, que anseios, análise do que se coletiviza e tem força comum e construção da reivindicação. Eis um contributo para transformar a preparação em poder negocial.
O local de trabalho é onde tudo começa
A base de uma negociação sólida está no chão da fábrica, no escritório, no armazém, no call center. É aqui que se apanha a essência das reivindicações.
Saber escutar, ouvir os trabalhadores é essencial. Fazemos conversas informais, atentos às frustrações silenciosas, aos “sinais fracos” que indicam problemas futuros. Um bom representante de trabalhadores não só ouve, escuta ativamente.
Por exemplo, Imagina que tu, o Jorge, és o representante numa empresa de logística. Durante o almoço, a Dulce diz que a jornada de trabalho a deixa de rastos. Ela conta que as horas extras não são pagas corretamente e que o chefe a pressiona para que o trabalho seja feito “cada dia até ao fim!”. Um representante menos atento vê nisto mais uma simples reclamação. Um bom representante anota: “pressão por horas extras não remuneradas”.
A minha preocupação está em trabalhadores recentes. Diferentes daqueles que estão dentro de contratos colectivos.
E a outra questão que me parece relevante é a comunicação ou seja a relação entre os membros do sindicatos e os seus associados.
Olá Marcelo, agradecido pelo teu comentário. Tens razão, os trabalhadores que vão chegando às empresas são um desafio para os sindicatos. desde logo porque , se o Sindicato tem um representante no local de trabalho, um delegado sindical, é suposto que ele/a façam o acolhimento a quem entra de novo, convidando à filiação no sindicato. Mas muitas vezes, quase sempre, estão em precariado, ou estão com contrato individual de trabalho – uma tática patronal conhecida. Mas em todos os casos, sindicalizado o trabalhador estará protegido e os seus direitos e cobertura contratuais vão refletir isso mesmo.
A outra questão, a da comunicação, a relação entre o Sindicato (instituição – não, como dizes entre os membros do sindicato, porque esses são todos os associados) e os seus associados e , mais geral, os trabalhadores também, é uma questão que desafia, para a qual ainda não há respostas, mas há alguma boas práticas. Direi que, do que conheço, em geral os sindicatos andam todos a procurar soluções. isto porquê? porque coexistem os meios tradicionais – o papel, a tarjeta, o folheto, o cartaz ou cartazete…. – com os novos meios – os mail, os sms, os sites, e depois, os grupos Whats App, os clips, as redes sociais, o Tik Tok… podemos dizer que têm uns e outros penetrações diferentes em termos de gerações de trabalhadores. podemos também reconhecer que as direções sindicais são ainda mais da geração papel , leitura, textos longos, quando a modernidade está em textos curtos, imagens e animação e movimento. A comunicação vive hoje muito do instante, a ação sindical pede argumentos e fundamentação que não cabe no instantáneo.
Mais, entretanto, eis que a Inteligencia Artificial surge em força para nos ajudar, mas ainda não sabemos trabalhar com o que nos oferece.
basta lembrar que os ficheiros dos sindicatos, em geral, não juntaram endereços mail, nem numeros de telemóvel às fichas de sócio!
enfim, estaremos num período de transição e de progresso. há consciência do problema e das dificuldades. e isso é o primeiro passo para a comunicação estar melhor nos dias próximos.
Fiquemos certos duma coisa, é com a chegada dos novos sócios, com a subida a cargos de direção das novas gerações de trabalhadores que vamos dar o salto.
A intervenção permanente dos sindicatos é importante aliás mas importante para os novos trabalhadores que chegam a empresa.