PRÁXIS Reflexão e Debate sobre Trabalho e Sindicalismo
Sindicalismo, Direitos Laborais...

Ganhar uma negociação, começa antes

Partilhar

Ganhar uma negociação, começa antes

Ontem escrevi um texto sobre o pós negociação. Houve logo voz amiga que me chamasse a atenção que estava a começar pelo fim. Volto ao assunto. Agora a voltar para trás!

Pensas que uma negociação coletiva começa quando as partes se sentam à mesa, geralmente em cada lado da mesma? Nem pensar. A verdadeira negociação não se inicia na reunião formal — ela é construída muito antes, nos locais de trabalho e nos de convívio laboral. Se chegarmos à mesa negocial apenas com um bloco de notas e fé ou esperança, já perdemos. Ganhar, começa no trabalho invisível, de formiguinha dos delegados sindicais: escuta dos trabalhadores, que problemas, que anseios,  análise do que se coletiviza e tem força comum e construção da reivindicação. Eis um contributo para transformar a preparação em poder negocial.

O local de trabalho é onde tudo começa

A base de uma negociação sólida está no chão da fábrica, no escritório, no armazém, no call center. É aqui que se apanha a essência das reivindicações.

Saber escutar, ouvir os trabalhadores é essencial. Fazemos conversas informais, atentos às frustrações silenciosas, aos “sinais fracos” que indicam problemas futuros. Um bom representante de trabalhadores não só ouve, escuta ativamente.

Por exemplo, Imagina que tu, o Jorge, és o representante numa empresa de logística. Durante o almoço, a Dulce diz que a jornada de trabalho a deixa de rastos. Ela conta que as horas extras não são pagas corretamente e que o chefe a pressiona para que o trabalho seja feito “cada dia até ao fim!”. Um representante menos atento vê nisto mais uma simples reclamação. Um bom representante anota: “pressão por horas extras não remuneradas”.

3 Comentários
  1. Marcelo Silva Diz

    A minha preocupação está em trabalhadores recentes. Diferentes daqueles que estão dentro de contratos colectivos.
    E a outra questão que me parece relevante é a comunicação ou seja a relação entre os membros do sindicatos e os seus associados.

    1. Ulisses Garrido Diz

      Olá Marcelo, agradecido pelo teu comentário. Tens razão, os trabalhadores que vão chegando às empresas são um desafio para os sindicatos. desde logo porque , se o Sindicato tem um representante no local de trabalho, um delegado sindical, é suposto que ele/a façam o acolhimento a quem entra de novo, convidando à filiação no sindicato. Mas muitas vezes, quase sempre, estão em precariado, ou estão com contrato individual de trabalho – uma tática patronal conhecida. Mas em todos os casos, sindicalizado o trabalhador estará protegido e os seus direitos e cobertura contratuais vão refletir isso mesmo.
      A outra questão, a da comunicação, a relação entre o Sindicato (instituição – não, como dizes entre os membros do sindicato, porque esses são todos os associados) e os seus associados e , mais geral, os trabalhadores também, é uma questão que desafia, para a qual ainda não há respostas, mas há alguma boas práticas. Direi que, do que conheço, em geral os sindicatos andam todos a procurar soluções. isto porquê? porque coexistem os meios tradicionais – o papel, a tarjeta, o folheto, o cartaz ou cartazete…. – com os novos meios – os mail, os sms, os sites, e depois, os grupos Whats App, os clips, as redes sociais, o Tik Tok… podemos dizer que têm uns e outros penetrações diferentes em termos de gerações de trabalhadores. podemos também reconhecer que as direções sindicais são ainda mais da geração papel , leitura, textos longos, quando a modernidade está em textos curtos, imagens e animação e movimento. A comunicação vive hoje muito do instante, a ação sindical pede argumentos e fundamentação que não cabe no instantáneo.
      Mais, entretanto, eis que a Inteligencia Artificial surge em força para nos ajudar, mas ainda não sabemos trabalhar com o que nos oferece.
      basta lembrar que os ficheiros dos sindicatos, em geral, não juntaram endereços mail, nem numeros de telemóvel às fichas de sócio!
      enfim, estaremos num período de transição e de progresso. há consciência do problema e das dificuldades. e isso é o primeiro passo para a comunicação estar melhor nos dias próximos.
      Fiquemos certos duma coisa, é com a chegada dos novos sócios, com a subida a cargos de direção das novas gerações de trabalhadores que vamos dar o salto.

  2. Marcelo Silva Diz

    A intervenção permanente dos sindicatos é importante aliás mas importante para os novos trabalhadores que chegam a empresa.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceitar Lear mais..

TRADUÇÃO