é depois da negociação que começa a batalha da comunicação
é depois da negociação que começa a batalha da comunicação:
a nossa voz é o nosso poder!
Muitos de nós pensam que uma negociação acaba quando o acordo é assinado ou rejeitado. Paramos, suspiramos de alívio ou de frustração, e seguimos em frente. Venha a próxima!
Mas essa forma de pensar é um erro que custa caro. Na verdade, é exatamente nesse momento que o verdadeiro papel como representante dos trabalhadores se torna mais vital.
A assinatura de um acordo não é o fim da história. É o início de como essa história será contada e, mais importante, de quem a irá contar, de como a interpreta. Se os representantes não assumem o controle da narrativa, a história será escrita por outros, e geralmente não a seu favor.
Um acordo não fala sozinho
Imagine uma grande conquista: aumento salarial, melhores condições de trabalho ou novas folgas. Se não comunicamos isso de forma clara, essa vitória passa quase despercebida. O contrário também é verdadeiro: se houve um recuo em algum ponto da negociação, a falta de uma explicação sindical pode fazer com que o patrão ou diretor apresente isso como uma derrota completa, minando a confiança dos trabalhadores.
O papel de comunicador é tão crucial quanto o de negociador . A forma como se compartilha o resultado de uma negociação define a percepção dos colegas e fortalece sua posição para lutas futuras.
O balanço da negociação: um ato político e estratégico
Fazer um balanço detalhado e transparente não é um relatório. É um ato político, uma ferramenta poderosa nas nossas mãos.
Nossa voz contra a narrativa da direção. Os trabalhadores merecem saber a verdade, a história completa. Nossa comunicação é o contraponto à versão da diretoria e do patronato, que muitas vezes é a única que chega até eles. Ao compartilhar o que foi obtido e o que foi recusado – e os motivos por trás de cada decisão –informamos e evitamos que os trabalhadores se sintam desinformados ou alienados. São democraticamente respeitados.
Valorizar cada passo, cada conquista, mesmo que as conquistas sejam parciais, elas são a prova do esforço, da utilidade do sindicato. Comunicar essas vitórias, por menores que sejam, mostra que o trabalho do sindicato gera resultados. Tal fortalece a confiança no seu papel e na força da união.
Transparência gera confiança. Nem sempre se ganha tudo. Em uma negociação, o “jogo de forças” implica reconhecer limites. Explicar os recuos não é fraqueza, é um sinal de maturidade e honestidade. A transparência sobre os desafios e as razões para certas decisões constrói uma relação de confiança com os seus colegas, que se sentem parte do processo, que podem mesmo criticar.
Preparar as batalhas futuras. Cada balanço é uma lição. Ao analisar o que funcionou e o que não funcionou, não apenas compartilhamos os resultados, mas também preparamos o terreno para as próximas negociações. Esse processo de aprendizado contínuo garante que você nunca comece do zero e esteja sempre um passo à frente.
Como fazer a voz sindical chegar a todos?
A comunicação eficaz não precisa ser complicada, mas precisa ser estratégica.
- Fujamos do “juridiquês”e do “sindicalês”: usemos resumos claros, linguagem acessível a todos, sem jargões ou termos técnicos que só confundem. O objetivo é ser compreendido.
- Vamos usar todos os canais: não apenas o quadro de avisos sindical. Usemos cartazes, newsletters, grupos de WhatsApp ou outros, abertos ou fechados, redes sociais internas e, claro, reuniões presenciais – nada pode substituir o contato pessoal com os trablahdores. A ideia é garantir que a mensagem chegue onde os trabalhadores estão.
- Usemos a informação como ferramenta de discussão: não nos contentemos em só informar. O balanço é um ponto de partida para um diálogo. Reúnamos com os trabalhadores, discutamos os pontos do acordo e ouçamos o que eles pensam, opiniões, comentários, críticas. O conhecimento coletivo é uma arma poderosa para as próximas negociações.
Não se permita que o patrão ou a direção escreva (ou apenas conte verbalmente) a sua história da negociação. Assumamos o controle, façamos o balanço e transformemos a comunicação na nossa maior aliada política. É através da sua voz que a união dos trabalhadores se fortalece e se torna cada vez mais decisiva.
E você, lá no seu ambiente de trabalho, ou no seu sindicato, como têm compartilhado os resultados das negociações (e bloqueios) com os trabalhadores?
Ulises Garrido