PARA QUE SERVE UM PLENÁRIO

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(Ou como falar aos trabalhadores numa reunião alargada)

Ulisses Garrido

Na semana passada encontrei um ativo representante sindical que conheço há muito e, no meio da conversa, falámos dos plenários de trabalhadores nos locais de trabalho. Logo me disse que a participação dos trabalhadores se vai evidentemente reduzindo, que quem vai são ativistas sindicais – dizia, são os que nem precisam do plenário! – e que mesmo esses, vários olham a ocasião como uma boa pausa no trabalho.

Conversa puxou conversa e lá veio a expressão “estar para ali a encher chouriços!”, como há dirigentes que afirmam.

Desde logo há um problema: o plenário legal tem horas marcadas (dum crédito anual legal) e, mesmo que não haja inscrições de trabalhadores para intervirem, o dirigente do sindicato tem de “encher chouriços”, ocupar o  tempo até ao limite. Não é boa prática!

Um plenário de trabalhadores é uma ocasião coletiva importante, momento de participação democrática, oportunidade de contacto pessoal e esclarecedor por parte do sindicato, que obviamente tem uma estratégia e informações a oferecer.

O primeiro pressuposto para o sucesso dum plenário é ser preparado.

Isto é,

  • saber claramente o que se pretende obter do plenário – objetivos
  • definir a ordem de trabalhos, clara e objetiva
  • conhecer a audiência: quem são os trabalhadores, que problemas há ou subsistem na empresa, que necessidades e anseios se expressam, como funciona a representação sindical, que níveis de sindicalização, etc. – um bom contacto com a estrutura sindical ajuda, ai se ajuda!

Claro que num plenário, o dirigente da empresa tem uma influência importante, mas o que todos esperam, querem , precisam, é da comunicação do dirigente que vem do sindicato, da União ou da Federação.

A comunicação eficaz em plenários de trabalhadores é essencial para garantir que as informações e esclarecimentos sejam transmitidos de forma clara e compreensível, promovendo um ambiente de trabalho colaborativo e produtivo.

Lembro-me bem da minha própria experiência em plenários e de outros a que assisti. Aprendi à minha custa. Recomendo pois que:

  • não queiram falar de tudo, escolham umas poucas ideias e só tratem dessas
  • escolham as 3 ideias-chave, por importância; mais que isso já é muito
  • repitam 3 vezes o essencial; parece tonto? Não! Anunciem o essencial, desenvolvam, expliquem, e depois no final concluam, repetindo o essencial. (nós lembramos 1/3 do que ouvimos…)
  • Apliquem a regra dos 3Cs: Curto, Claro e Conciso

Nós, os sindicalistas, muitas vezes falamos muito e falamos “sindicalês”, adotamos expressões jurídicas copiadas dos advogados, etc. Cuidado! Temos de usar uma linguagem simples, comum e acessível, identificada com a nossa audiência. A comunicação deve ser clara e direta, evitar mal-entendidos.

Mais: vão diretos ao assunto, sem rodeios nem rodriguinhos. Isso é ser conciso.

Durante o plenário, ai tantas vezes, os participantes conversam, fazem crochet,… como é que podemos atrair a sua atenção, mais mantê-la? Uma boa técnica é o uso de perguntas. Perguntem, não necessariamente sim ou não. Depois da pergunta, 2 segundos de silêncio e damos a resposta – mas os cérebros interrogaram-se. Em casos de sim ou não podemos mesmo esperar e pedir p+ara ouvir as respostas.

E atenção, todos têm de ser ouvidos. Mesmo os discordantes, mesmo as críticas ao sindicato. Isso mesmo, principalmente se somos criticados.

O Tempo não pode ser excessivo. O meu amigo já encheu chouriços de mais de 1 hora! A nossa comunicação não deve exceder nunca os 20 min, que é um limite alargado de atenção (sim, porque concentrados, só mesmo uns minutos). Mais: é mais eficiente falarmos 3x 10min que 1 vez 30 min.

Se depois do Plenário , missão cumprida, está feito e toca a andar! Então perdemos a capacidade de aprendizagem e aperfeiçoamento. Pensemos no plenário, se correu bem – isto é , se atingimos os objetivos – e o que poderia ter sido melhor.

Bom mesmo é ter pedido a um colega que nos filme, para nos revermos com olhar crítico não complacente. Bom mesmo é termos um mentor, um experiente que nos comenta, aconselha, guia.

Mas vai longo este escrito. Ele próprio sujeito à vossa opinião. E se quiserem, contribuam com os comentários e relatos de experiências que achem uteis.

Não esqueçam: todos já falhámos, todos já sabemos fazer melhor mas melhor ainda poderá ser.

Por. Ulisses Garrido


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Comments (5)
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  • Fernando Fidalgo

    Comprometi-me em escrever algo sobre esta matéria, para transmitir a minha experiência de alguns anos como dirigente sindical responsável no sector dos transportes pela contratação colectiva. Os vários processos reivindicativos determinaram a realização de algumas centenas de plenários em diversas empresas e subsectores.
    Qualquer plenário geral de trabalhadores é parte integrante e determinante de um processo quer seja ele reivindicativo, informativo ou defensivo.
    Realizei dois tipos diferentes de plenários, os largamente participados, realizados em dia de greve ou convocados ao abrigo da lei sindical, no âmbito das 10 horas anuais que os trabalhadores dispõem para o efeito ou aqueles menos participados realizados também ao abrigo da lei sindical mas abrangendo apenas os trabalhadores disponíveis naquele dia e hora previamente marcados.
    Para além do referido pelo Ulisses no seu artigo, cujo conteúdo estou amplamente de acordo, os plenários são acções colectivas que devem ser realizadas por dirigentes experientes e profundamente conhecedores de todo o processo em curso.
    Dividi sempre o meu plenário em 4 partes:
    – Intervenção de apresentação do assunto ou assuntos em análise
    – Espaço de debate com os trabalhadores
    – Conclusões decididas pelo plenário
    – Ouvir os trabalhadores que nos contactam após os plenários terminados, é um período muito importante, onde tiramos as dúvidas dos mais tímidos que não ousaram pedir a palavra e muitas vezes é neste período que ficamos a conhecer melhor a situação social da empresa.
    O que procurei sempre evitar nos plenários:
    – Politizar partidariamente o plenário
    – Acusar outras organizações sindicais pela situação social dos trabalhadores
    – Pessoalizar ou fulanizar elementos da administração da empresa
    Na parte final do meu último mandato, consegui um dos objectivos que há muito tempo perseguia, a realização de plenários gerais alargados com todas as orts´ ou seja um processo conjunto e respectivos plenários conjuntos.
    Penso ter dado um contributo para a queda de alguns tabus, pois não abstante as naturezas diferentes é possível ter um projecto comum, respeita-lo e defende-lo com todos os trabalhadores até ao fim, com resultados muito positivos.
    Fernando Fidalgo

  • Luís Miguel Fernandes

    Bom dia,
    Gostei do artigo, exactamente por fazer jus ao três C’s – artigo “enxuto” – e apontar exactamente erros em que involuntariamente eu já tropecei…
    Poderia chanar-lhe um refrescamento oportuno, obrigado

    • UG

      Obrigado Luis, bom ter esse teu comentário. Não queres, tu mesmo, partilhar as tuas experiências? Ou propor novas abordagens?

      • Luís Miguel Fernandes

        Boa noite,
        Bem sei que tudo evolui, mas apesar de todos os avanços tecnológicos, aquilo que o artigo encerra em si (um B+A = BA) permanece oportuno simples e eficaz. As melhores lições são as mais simples, obrigado. Não vou mexer no que está muito bem!

  • Admin Práxis

    Muito oportuno este artigo. Comprometo-me a escrever algo sobre esta matéria.