COMUNICAÇÃO EFICAZ
COM OS TRABALHADORES, É PRECISO!
Sabemos e compreende-se que é quando os trabalhadores “estão aflitos” que procuram os sindicatos. Geralmente em conflito, muitas vezes demasiado tarde, quase sempre percebendo então que a força de todos pode superar o isolamento de cada um (afinal, a prática individualista dominante e promovida pelas empresas).
Também sabemos que não raras vezes o contacto com o sindicalista é feito às escondidas, temendo represálias identificadas em práticas anteriores (tal corresponde extensamente à cultura patronal e de gestão , fortemente anti sindical, conflituosas, de desrespeito pelos representantes).
Mas a verdade é também a de que a resposta sindical individualizada é muitas vezes frágil, fácil, estandardizada e repetitiva, muitas vezes não indo direta ao assunto e à solução.
Há um sindiquês apropriado para todas as situações, feito de frases feitas e ocas, algumas de pretenso cunho e fidelidade ideológica, mas sem sentido prático nem eficácia comunicativa ou efeito mobilizador. O conteúdo é quase sempre servido por um fraseado radicalizado e extremo, uma análise no tudo ou nada! (Como se a desgraça alguma vez fosse mobilizadora!)
Os plenários foram ao longo dos anos degradando a sua qualidade participativa e democrática e sempre foram lugar de fraca comunicação, foram um retransmissor de efeitos reduzido da mensagem diretiva.
Alguns dirão: lá estás tu, tão crítico… Bem, sei do que falo; mais, assumo que eu próprio, enquanto responsável sindical durante longos anos, fiz parte desta engrenagem! E é mesmo assim, ou ainda pior.
Mas então como pode ser diferente? Como damos eficácia ao esforço generoso de tantos sindicalistas de boa vontade que querem mesmo obter resultados?
Antes de mais e em tempo de digitalização de tudo à nossa volta, de teletrabalho, de grupos no telemóvel, etc, retenhamos que o contacto pessoal será sempre o melhor meio de comunicação com os trabalhadores.
O contacto pessoal é o que possibilita ouvir, escutar – mas atenção, ouvir as críticas dos trabalhadores, não recusá-las liminarmente nem tomar o controlo da conversa, como tantas vezes vi. O contacto pessoal é o que constitui um meio de esclarecimento: ouvir, rebater com argumentos, contra argumento ouvido, retorquir, esclarecer, sem fuga para a generalidade, mas demonstrando, contestando o que concretamente foi dito… o contacto pessoal é a chave do convencimento, da adesão.
O contacto com os trabalhadores nos locais de trabalho também dá visibilidade ao sindicato, aumenta a sua popularidade – além de aumentar o conhecimento da realidade pelos dirigentes sindicais. Daí que seja útil e imprescindível ter programas contínuos de “visitas” de trabalho aos locais de trabalho (sindicalista sentado na sede? Só o indispensável mesmo). Além de que são um direito sindical!
É nos contactos e visitas aos locais de trabalho que vamos conhecendo e descobrindo novos líderes, futuros representantes, depois dirigentes. Ou seja, um eixo para a renovação sindical inadiável. Além , claro, de ser local de sindicalização por excelência, nomeadamente quando de processos reivindicativos mobilizadores.
Nos contactos com os trabalhadores podemos construir a identidade, os pontos comuns que permitem construir reivindicações comuns, vontades coletivas.
Um discurso sindical eficaz precisa combinar racionalidade com alguma emoção. Isso aprende-se. Os representantes dos trabalhadores carecem de formação sindical. E pratica-se e analisa-se. É sempre tempo de aprender e nos aperfeiçoarmos.
Para tal, precisamos de adoptar um olhar crítico sobre a realidade, uma leitura inteligente da mesma, uma lucidez reconhecida pelos trabalhadores. O que dizemos deve ser sempre fruto de análise e fundamentado, evidenciado com dados quando possível – e não simples generalizações ou percepções. Um pensamento sindical autónomo é indispensável. A evidente falta de autonomia deslumbrará alguns, mas desmobiliza, descredibiliza-los, trai o ideário, os princípios sindicais.
Já agora, que atrás referi a digitalização, será que devemos desprezar os meios ao dispor? Nada disso. Precisamos de usar, de saber usar eticamente, de tirar partido do que a tecnologia nos oferece. Para ser um movimento sindical massivamente representativo dos trabalhadores, não pode deixar de usar os meios ao dispor. Mas isso é conversa para outros escritos.
Em suma: para comunicar mais eficazmente com quem trabalha há que intensificar os contactos pessoais , questionar e ouvir; há que racionalizar o discurso, analisar, argumentar, construír identidade e reivindicações em comum; há que formar-se e assumir-se não como um técnico de vendas, mas como um representante com pensamento sindical autónomo.
(Ulisses Garrido)
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Muito bem. Perfeito que se possa comentar.
Um bom tema de debate sem duvida. No entanto penso que ficou por ponderar as reais capacidades humanas e financeiras que os sindicatos vivem hoje (provavelmente assunto de futuros artigos). Escassez de quadros sindicais por indisponibilidade dos trabalhadores para tal motivada pelas alterações verificadas nos últimos anos no mundo do trabalho, descredibilização das organizações sindicais clássicas, baixa taxa de sindicalização, a cota sindical e o seu peso nos baixos salários praticados, a multiplicação de organizações inorgânicas dinamizadas a partir de redes sociais, entre outros problemas, contribuem para um acréscimo significativo de dificuldades dos sindicatos para responder aos velhos e novos problemas que se colocam. Por outro lado, existem ainda os problemas resultantes da escassez de meios financeiros que permitam investimentos diferentes em deferentes estilos métodos e formas de trabalho, o que tem provocado o envelhecimento das organizações e como consequência uma barreira à modernização e acompanhamento da evolução que se verifica em todo o mundo.